Retrato de Jeanne Hébuterne (1919) e Retrato de Leopold Zborovski (1918)
Em 1909, depois de pintar A Amazona e ver o quadro ser recusado pela pessoa que o tinha encomendado - a Baronesa Marguerite de Hasse de Villers -, Amedeo Modigliani mudou-se para um novo estúdio, desta vez com pátio, e começou a dedicar-se à escultura. Podemos perguntar-nos se este episódio terá sido determinante para o desenvolvimento estético da sua obra ou se a necessidade que ele sentia, descrita pelo artista Curt Stoermer (“um impulso tremendo de esculpir”) acabaria, de alguma maneira, por vir a prevalecer na sua vida artística. Não saberemos. O que é certo é que nesta altura Modigliani se sentiu definitivamente atraído pelas esculturas antigas e pela simplicidade totémica que delas emana: Cabeça (1911). Elas, de facto, correspondiam também a alguma da pintura que ele já tinha realizado. Auto-retratos onde as figuras assumiam contornos quase religiosos e simbólicos, influenciados pelo vigor impressionista de Cèzanne e Toulouse-Lautrec e a psicologia de Munch.
Amedeo Modigliani nasce a 12 de Julho de 1884 em Livorno, na Itália. Cresce no seio de uma família judaica com problemas de dinheiro. O negócio familiar de madeiras e carvão abre falência e a mãe tem de contribuir para o rendimento da casa com traduções da poesia de D’Annunzio. O mais novo dos seus quatro filhos contrai febre tifóide aos catorze anos e num delírio sonha com o seu destino artístico. Abandona a escola e recebe lições de pintura de Guglielmo Micheli na Academia de Arte de Livorno. Aos dezoito anos inscreve-se na Scuola Libera di Nudo em Florença. O seu percurso de artista começa nesta estadia na cidade do Renascimento e o seu fascínio continuaria com as visitas a Veneza e mais tarde a Paris. Apesar dos estudos de pintura serem quase rudimentares, a obra do italiano estaria muito próxima, não só dos mestres de outrora, como da vanguarda emergente no princípio do século.
Embora os seus quadros dêem relevo ao bi-dimensional, fundados que são em desenhos, e se afastem das perspectivas amalgamadas do cubismo de então, podemos constatar que esta depuração não está assim tão longe da vanguarda cubista. Os quadros de Modigliani, os seus rostos fusiformes, os membros alongados, os olhos amendoados como em Retrato de Leopold Zborovski (1918) ou Casal de Noivos (1915/16), estão próximos de quadros charneira do cubismo como as Les Demoiselles de d’Avignon de Picasso.
Modigliani procurava nos seus quadros e na depuração lírica que perseguiu na escultura, uma forma que exaltasse a beleza. A poesia e a escultura exerciam enorme influência sobre ele. Dizia-se que andava sempre com livros de poesia no bolso, entre eles Chants de Maldoror de Lautréamont.
O artista vagueou por Paris ao sabor da boémia, do haxixe e das mulheres. Em 1911 expõe a sua escultura no ateliê do pintor português Amadeo de Souza-Cardoso. Aos poucos vai retornando à pintura que abandonara por volta de 1909 e ao seu estilo depurado, próximo das esculturas que tinha realizado, como em Retrato de Jean Cocteau (1916), volta-se para os retratos. Os seus quadros serão mais do que nunca uma simbiose amorosa e apaixonada entre o pintor e as pessoas retratadas. Aquilo que emana das personagens pintadas é uma calma e uma placidez que contrastam com a época em que se vivia – em plena Iª Guerra Mundial. [mais]
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1 comentário:
Olá, gostei de sua matéria...
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